Para Jurandir Pacífico, luta pelo reconhecimento matou a mãe e o irmão
Jurandir Wellington Pacífico, filho da líder quilombola Mãe
Bernadete, comentou nesta segunda-feira (8) o sentimento dele e de toda a
comunidade Pitanga dos Palmares, na cidade de Simões Filho (BA), ao receber a
notícia de reconhecimento de terras pelo governo federal, com a delimitação da
área da comunidade. Ele avalia que o reconhecimento das terras garante
autonomia à comunidade. “A titulação é como se fosse um campo de força contra
os inimigos”, afirma.
Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra), a decisão beneficia 536 famílias remanescentes de quilombos em
uma área de 852,2 hectares. “Era o sonho de Mãe Bernadete titular essa
comunidade. Mas, infelizmente ela não está mais aqui”, disse.
Pacífico diz acreditar que a luta pela titulação acabou
provocando as mortes da mãe (em agosto do ano passado), e do irmão dele, Flávio
Gabriel Pacífico dos Santos, conhecido como Binho do Quilombo, em 2017. “A
gente fica com esse sentimento que precisou haver derramamento de sangue para
ter essa titulação”.
O filho defende que o reconhecimento e a delimitação da área
do quilombo brindou a comunidade, que, segundo testemunha, vem sofrendo com a
especulação imobiliária e com crimes ambientais. “Titulação é garantia de
direitos, de agricultura familiar, de esporte, cultura, lazer e saúde”,
exemplifica.
Segurança – Apesar da boa notícia desta segunda, o
filho de Mãe Bernadete se queixa da falta de respostas para os assassinatos do
irmão e da mãe. Em novembro do ano passado, o Ministério Público da Bahia
(MP-BA) denunciou cinco pessoas investigadas por suspeita de participação no
assassinato de Maria Bernadete Pacífico Moreira, líder do Quilombo Pitanga de
Palmares, localizado entre as cidades de Simões Filho e Candeias, na região
metropolitana de Salvador. “As perguntas que não querem calar: quem mandou
matar Binho do Quilombo e quais foram os motivos para a Mãe Bernadete?”
Pacífico entende que a titulação dá autonomia à comunidade e
garante, com isso, mais conforto, segurança, capacidade de desenvolver a
cultura local, a educação e a agricultura familiar. “Titular é sinônimo de
segurança e de prosperidade”, avalia.
A decisão do reconhecimento de terras delimita as áreas
privadas que integram o Pitanga de Palmares, de acordo com o Relatório Técnico
de Identificação e Delimitação (RTID). Com a portaria, o Incra entra na fase de
desapropriação das propriedades particulares. São preparadas as documentações
necessárias desses imóveis rurais para envio à presidência da República para as
desapropriações por interesse social.
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