Extremos opostos

Foto: Reprodução

O mundo inteiro ficou chocado com uma grande explosão que aconteceu essa semana no porto da cidade de Beirute, no Líbano. Na última terça-feira, 2,7 mil toneladas de nitrato de amônio explodiram, matando 130 pessoas (segundo a contagem feita até a noite de ontem), deixando mais de 5 mil pessoas feridas, e outras 100 desaparecidas.

Ontem, um fato que chamou a atenção foi o de que as autoridades do Líbano decidiram decretar a prisão domiciliar de todos os funcionários responsáveis pelo armazenamento e segurança no porto de Beirute desde 2014, até que os responsáveis pela explosão sejam identificados na investigação, que já começou. Não foi divulgado o número de pessoas que entraram no regime de prisão domiciliar e nem por quanto tempo elas ficarão presas em casa. As autoridades informaram apenas que caberá ao exército local a vigilância e monitoramento das residências dessas pessoas, para garantir que a determinação seja cumprida.

A atitude extrema das autoridades libanesas nos faz, automaticamente, lembrar dos rumos que as investigações dos dois maiores desastres ambientais da história do Brasil tiveram. No dia 5 de novembro de 2015, uma barragem da mineradora Samarco rompeu na cidade de Mariana-MG, e causou uma enxurrada de lama, que culminou na devastação da cidade, e na morte de 19 pessoas. De lá até aqui, não tivemos pessoas responsabilizadas ou punidas duramente pelo crime ambiental e contra a vida humana. A sensação que ficou foi de impunidade, e por causa dela (pode ter certeza disso), quatro anos depois, em 25 de janeiro de 2019, aconteceu um desastre semelhante e ainda maior. Mais uma barragem de rejeitos de mineração rompeu, dessa vez na cidade de Brumadinho-MG, e os números foram bem mais expressivos: 259 mortes e 11 desaparecidos. Assim como aconteceu com o caso de Mariana, o de Brumadinho segue, um ano e meio após o desastre, sem pessoas responsabilizadas e punidas pelo que aconteceu, o que nos leva a temer, inclusive, que mais casos como esses possam acontecer, já que no Brasil, e no próprio estado de Minas Gerais, existem várias outras barragens do mesmo tipo e que oferecem riscos de rompimento. É simples: se não há punição pelos responsáveis dos casos, não há pressão para evitar que novos aconteçam.

A medida de manter em isolamento domiciliar pessoas que trabalharam no porto de Beirute nos últimos 6 anos, ainda no começo das investigações sobre as causas da explosão que aconteceu por lá, é extrema, e diria até, exagerada. Muitas (não saberíamos dizer quantas) dessas pessoas, não são as responsáveis pelo que aconteceu. Até as investigações terem resultados e todo mundo 'passar pelo funil', muita gente terá sido punida injustamente. Não se pune antes de investigar. Mas esse fato nos faz perceber a vontade (até cometendo exageros) de se descobrir rapidamente os responsáveis pelo desastre, e que estamos exatamente no outro extremo, se formos comparar. Se lá em Beirute, se pune antes mesmo de investigar (e não estou dizendo que isso é certo), por aqui, as investigações são 'intermináveis', se arrastam, não chegam à conclusão alguma, e não se pune ninguém. A vontade de identificar esses responsáveis por aqui, não parece ser grande. E seguimos sempre com a sensação de que vivemos no país da impunidade.

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