Familiares de vítimas reclamam de falta de assistência da Backer

Parentes e vítimas divulgaram carta aberta contra apontando descaso da Backer.

Foto: Divulga��o

Parentes das vítimas de intoxicação por dietilenoglicol que estão internadas, afirmaram em carta divulgada nesta segunda-feira (10) que a Backer até o momento não prestou qualquer auxílio e nenhum tipo de assistência que havia ficado acordados em audiência com participação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

A Polícia Civil investiga 34 casos de intoxicação que podem estar ligados ao consumo de cervejas da Backer. Seis pessoas morreram. A substância tóxica dietilenoglicol foi encontrada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) em cervejas da marca, em tanques e na água da fábrica em Belo Horizonte, que está interditada. A Backer sempre negou usar o dietilenoglicol no processo de fabricação, mas afirma usar o monoetilenoglicol.

“É importante desde já indicar que dentre os mais de 30 (trinta) casos relacionados e 6 (seis) mortes, existem vítimas que estão em coma, tetraplégicas e entubadas, outras em CTI com problemas nos rins, fazendo diálises diariamente, e com problemas neurológicos como paralisia de movimentos e facial, além de prejuízo a questões básicas como visão, fala e paladar. Existem vítimas que estão na fila do SUS aguardando tratamento e remédios, outras que não estão no hospital, mas não conseguem mais trabalhar devido às sequelas neurológicas e de visão. Até agora, mais de 30 dias da confirmação do caso e 5 dias depois do prazo estabelecido pelo Ministério Público, a Backer não prestou qualquer auxílio”, diz a carta.

Os familiares dizem ainda que representantes da empresa apresentaram questionários que envolviam perguntas sem nenhuma relação com as necessidades e custeios de tratamento e que passaram a ideia de falta de vontade em ajudar.

“Ficou claro que, além de a cervejaria não estar preocupada com as vítimas e seus familiares, também não pretende arcar com os gastos referentes aos tratamentos. Muito pelo contrário. Frases como ‘vocês não sabem o que a Backer está passando’ ou ‘está cheio de oportunistas por aí’ para justificar a exigência de documentos pela empresa comprovaram a total FALTA de humanidade da empresa”, relata o texto.

Na carta, vítimas e parentes afirma que empresa não cumpriu prazos acordados com o MP e não prosseguiu com nenhum contato. “Ocorre que, até a presente data, NENHUMA família foi respondida. NENHUM contato foi informado. NÃO está sendo prestada qualquer assistência”.

A Backer disse que “as tratativas feitas em conjunto com o Ministério Público Estadual estão sendo observadas na íntegra e todas as comunicações oficiais estão sendo formalizadas perante a autoridade competente que está ciente do cumprimento dos atos pela empresa”.

Diferentemente de todas as notas respondidas pela empresa anteriores à carta, desta vez a cervejaria não afirmou que presta apoio e se solidariza às vítimas. “A Backer compartilha da dor dos familiares das vítimas e, ainda que inconclusas as investigações sobre o acontecido, continua prestando o suporte necessário a todos os atingidos. A cervejaria tem acolhido essas pessoas e prestado atendimento psicossocial. Inclusive, na semana passada, por iniciativa própria, a empresa recorreu ao Ministério Público para ampliar ainda mais o suporte prestado às famílias dos atingidos”, disse a empresa no dia 3 de fevereiro.

Resumo:

Uma força-tarefa da polícia investiga 34 notificações de pessoas contaminadas após consumir cerveja (seis delas morreram);
O Ministério da Agricultura identificou 41 lotes de cerveja da Backer contaminados com dietileglicol, um anticongelante tóxico;
A Backer nega usar o dietilenoglicol na fabricação da cerveja;
A cervejaria foi interditada, precisou fazer recall e interromper as vendas de todos os lotes produzidos desde outubro;
Diretora da cervejaria disse que não sabe o que está acontecendo e pediu que clientes não consumam a cerveja.

Um caso de morte por intoxicação de dietilenoglicol foi confirmado em Minas Gerais, de acordo com a SES-MG. Paschoal Dermatini Filho tinha 55 anos e morreu em 7 de janeiro no Hospital Santa Casa de Misericórdia em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Ele teve comprovada a substância no sangue.

A secretaria investiga outras cinco mortes por suspeita de contaminação no estado.

Um dos casos aconteceu em Pompéu, na Região Centro-Oeste do estado. Trata-se de uma mulher de 60 anos. Ela morreu de insuficiência renal no dia 28 de dezembro. O caso já havia sido notificado pela Secretaria Municipal da cidade e entrou no boletim da Secretaria de Estado da Saúde em 16 de janeiro.

Ainda não há prazo para conclusão dos laudos referentes aos casos suspeitos.

O prazo para a entrega voluntária das cervejas Backer com lotes contaminados terminou na última sexta-feira (7), informou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).

Em Belo Horizonte, até esta quinta-feira (6), 5,5 mil garrafas haviam sido recolhidas.

A SES-MG orientou que a população de Minas Gerais caso tenha cervejas de qualquer marca ou lote da Backer não a descarte em pias ou vasos sanitários, nem as coloque no lixo comum, pois outras pessoas podem pegar e consumir.

Veja lista das mortes

- Paschoal Dermatini Filho, de 55 anos. Ele estava internado em Juiz de Fora e morreu em 7 de janeiro. A morte por síndrome nefroneural causada por dietilenoglicol foi confirmada
- Antônio Márcio Quintão de Freitas, de 76 anos. Morreu no Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, por suspeita de síndrome nefroneural
- Homem de 89 anos. Não teve a identidade revelada. Morte confirmada pela SES nesta quinta-feira (16) por suspeita de síndrome nefroneural
- Mulher de 60 anos. Não teve a identidade revelada. A morte havia sido notificada pela Secretaria Municipal de Saúde de Pompéu, mas só foi confirmada pela SES em 16 de janeiro por suspeita de síndrome nefroneural
- Homem sem idade e identidade revelados. Morreu em 1º de fevereiro em Belo Horizonte
- João Roberto Borges, de 74 anos. Estava internado no Hospital Madre Teresa, no bairro Gutierrez, na Região Oeste de Belo Horizonte, e morreu na madrugada de 3 de fevereiro

Entre os sintomas da síndrome nefroneural estão alterações neurológicas e insuficiência renal. De acordo com a presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, Lilian Pires de Freitas do Carmo, os primeiros sinais de intoxicação por dietilenoglicol são dores abdominais, náuseas e vômitos. O tratamento é feito no hospital, com monitoração, e tem o etanol como antídoto.


Informações G1

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