APESAR DE VOCÊ AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA

Foto: Divulgação

Alguns fatos acontecidos ultimamente representam o estado de coisa que chegou o Brasil. Obscurantismo, sabujice e por que não dizer a insistência de sempre flertarmos com o que há pior que um país pode ter: o seu atraso intelectual.

O primeiro deles foi o aval que os EUA deu a Argentina e a Romênia como postulantes ao ingresso na OCDE, quando em março numa visita oficial Donald Trump, presidente americano prometeu ao presidente Bolsonaro que apoiaria o ingresso do Brasil nesta organização. Para tanto, nosso pais fez concessões aos norte americanos, que se fossem em outros tempos, seria visto como subserviência aos irmãos do norte. Foram elas:

- Fim de vistos para os americanos virem no Brasil, quando a praxe diplomática diz que deve haver reciprocidade nestes casos, mas os EUA não fizeram o mesmo.

- O Brasil abrir mão dos privilégios na OMC, entre elas o de tarifas mais em conta para os produtos brasileiros exportados, fato confirmado com o Itamaraty.

- A concessão de uma base de lançamentos em Alcântara no Maranhão para satélites, com a proibição de brasileiro entrar em algumas instalações.

Feito tudo isto, o governo americano dá um pontapé no governo brasileiro e escolhe, por incrível ironia, a Argentina e Romênia. Os buliçosos bolsonaristas logo gritaram que tudo isto estava previsto e que o ingresso vai ocorrer no máximo em um ano, um ano e meio. E que não houve traição dos americanos, tanto que em um tuíter o Trump reforçou seu apoio. Sei. Mas, pessoas inteligentes que somos, temos que nos atentar para os fatos e a estória que é bem diferente que a presidência do Brasil vem contando aos quatro ventos.

Primeiro. O Secretário de Estado americano Mark Pompeo em carta ao embaixador mexicano e uma enviada a OCDE defende de forma clara que não apoia o aumento de vagas nesta organização, pois, trata-se de uma posição definitiva dos EUA. Ninguém desmentiu esta carta. Nem os americanos.

Segundo. O ingresso na OCDE somente é possível com o voto unânime de seus membros. Basta um contrário, que não entre na organização. Atualmente não estamos bem na fita com a França e Alemanha, países membros da OCDE.

Terceiro. Ainda não preenchemos os duzentos e poucos requisitos para sermos aceitos na OCDE. Preenchemos pouco mais de 80. A Argentina somente 18. E por que então a escolha los irmanos? A economia argentina é muito mais aberta do que a brasileira e tem uma carga tributária mais civilizada.

Estes fatos desmentem o trololó do Planalto de que a indicação é uma questão de tempo. Um dia o Brasil ingressa na OCDE, mas vai demorar muito tempo. O fato do presidente americano afirmar que continua apoiando o Brasil para o ingresso na organização é igual aquela situação que você tem um cunhado chato e desempregado que te pede para arranjar um emprego e aí diz para ele: “Estou procurando. E vou indica-lo para alguns amigos”, mas na verdade nunca procurou nada para o infeliz.

Outro fato foi a afirmação do presidente da república de que assinaria a diplomação do prêmio recebido por Chico Buarque do prêmio Camões de literatura, que é por sinal, o mais importante da língua portuguesa. Ele é concedido de forma conjunta por Brasil e Portugal à aqueles que se destacam na divulgação do nosso idioma com seus trabalhos literários. Disse Bolsonaro que assinaria até o dia 31 de dezembro de 2026. Numa alusão que seria reeleito para o cargo de presidente. Nunca comunguei com as ideias politicas de Chico Buarque. Inclusive são as mais atrasadas e bobocas. Mas sempre admirei o seu trabalho musical e reputo como um dos melhores do mundo. Sua qualidade cultural é inquestionável. Ruim apenas seus livros, mas suas canções são geniais e de um lirismo sem precedente no meio musical. Enfim um gênio.

Quando a maior autoridade politica do pais se presta a este proselitismo, o faz ainda menor do que já é. Ele deveria saber separar seus gostos políticos das obras daqueles que ele acha que são seus algozes. Pergunto: Quem será lembrado pelos bons motivos no futuro? Um doce para quem acertar.

Outro fato me abespinhou foi uma tal Conferência de Ação Politica Conservadora realizada em São Paulo, tendo como um de seus patrocinadores o deputado Eduardo Bolsonaro. Pelo o que eu li foi um circo de horrores. Um conjunto de platitudes ditas com a profundidade que uma poça de agua daria no meio de uma canela de formiga. Falaram de autores que com certeza nunca leram, tais como Marx e companhia, onde entre outras coisa dita estava o de desancar a imprensa que não comunga com a cartilha de seus participantes. Afinal, se a noticia da carta não agrada, se mata o carteiro.

Lá pelas tantas foi dito foi dito pelo deputado Eduardo com a categoria de quem sabe fritar hambúrguer o seguinte: "Que golpe [de 1964] é esse? Que ditadura é essa, em que você podia sair do Brasil e voltar quando bem entendesse? Que ditadura é essa que não tira as armas do povo? Nunca passou pela cabeça de um militar tirar as armas dos brasileiros.".

Acho que vou deixar de comer hambúrguer. Deve fazer mal para o cérebro.

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