A IDEOLOGIA EM CONTRAPOSIÇÃO AO DISCURSO

Foto: Divulga��o

As palavras para mim tem sentido. Por razão da minha profissão sempre levei esta máxima a serio. Não dá para mudar o sentido querendo dá-las cunho ideológico para mostrar um discurso que se adequa a visão de mundo, tentando em última análise convencer, quando na verdade somente convence quem tem visão estreita.

 

Por que esta introdução? Ouvi ontem trechos da audiência do Ministro Sérgio Moro no Congresso Nacional. Percebi ali, uma tentativa através de um discurso enviesado, convencer o contrário daquilo está ás claras e que ele insiste em negar. Houve sim contrariedade ao artigo 254, IV. Do CPP. As gravações até agora mostrada pela imprensa tem demonstrado de forma cabal que a suspeição é evidente. O discurso do ministro na Câmara dos Deputados pode ser dividido em duas partes. Em ambas a logica deveria persistir, mas ao que parece isto não aconteceu. Então vamos a ela.

 

Num determinado momento ele afirma que as gravações são fraudadas e que existe a possibilidade de edição e alterações das falas. E depois afirma que se forem legitimas as conversas não tem nada demais. Por este raciocínio ou as conversas nunca aconteceram ou então tudo não passa de fraude. Lembro aos incautos que até agora não houve qualquer negativa quanto ao conteúdo. Querem uma prova? Ele pediu desculpas ao MBL por ter chamado de tontos. Ora se nunca disse o que consta nas gravações por que se desculpar por aquilo que nunca disse? E se são verdadeiros, incorre o preclaro ministro em suspeição. Observem como o discurso dele não convence.

 

Em outro momento na sua fala ao congresso nacional entra em contradição o fato de ter dito: “in Fux we trust”. Ora, se as conversas nunca existiram e é uma fraude, porque dizer que isto é uma paródia ao dólar americano? O detalhe que ele diz que isto foi dito em 2016. Gostaria que o ministro esclarecesse por que informar ao MPF sobre uma indicação de uma pessoa que pode ser usada como testemunha e depois o MPF sugere criar uma situação falsa como forma de convencer esta pessoa a testemunhar não seria uma flagrante parcialidade? Se isto não é uma parcialidade o que seria configurado como tal?

 

O segundo aspecto de seu discurso foi tentar convencer os incautos de que estão tentando mudar as sentenças de condenações através da divulgação das conversas interceptadas. Pois bem, ele engana besta com esta conversa mole. Se as sentenças forem anuladas, o que acho que não acontecerá, não pelos motivos corretos, as serão porque foram viciadas, entenderam ou querem que eu desenhe. O discurso do ministro é comum em república de bananas. Não é a divulgação das conversas que alterariam o rumo das coisas, mas seu conteúdo. O que comprova que houve direcionamento e parcialidade. Quem defende este ponto de vista é típico das ditaduras, como bem salientou o jornalista Reinaldo Azevedo.

 

Aqueles que me criticam por ter uma posição contrária ao endeusamento do ministro, convido-os a ler um artigo publicado no site Conjur  do renomado jurista Cezar Bitencourt no dia 26 de junho, quando explica as medidas exóticas de condução de um processo sob a jurisdição Moro. Só para citar um exemplo descrito em seu artigo, o então juiz mandou monitorar inclusive os voos de avião de advogados de defesa em um processo sob a sua responsabilidade. Para confirmar as suas alegações ele trás números de processos e tudo mais que comprovam o seu exotismo judicante. Leiam e verão o quanto é comprometedor suas atuações quando eram juiz.

 

Em países sérios, o preclaro ministro já teria sido defenestrado do cargo. Mas em Pindorama para justificar certas corretes de pensamento e opiniões enviesadas vai-se deixando as coisas numa espécie de letargia, passando a impressão de que vivemos num vale tudo. Uma pena.

 

E para finalizar, apenas um adendo. Um ministro da justiça tem a obrigação de ter um português correto. O que ouvi ontem foi um desastre. Ler um pouco mais não custa muito.

 

PMFS - Micareta 05

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