Bahia promete ações para combater assédio em jogos na Fonte Nova

Torcedoras relataram casos no domingo passado, contra o Avaí, pelo Campeonato Brasileiro

Reprodu��o/ Instagram

Dispositivo para localizar vítimas em aplicativo de celular, panfletagem e ação mais efetiva da Polícia Militar. Essas são as três ações prometidas pela diretoria do Bahia para intensificar o combate ao preconceito, assédio sexual e violência física contra as mulheres na Fonte Nova.

O Núcleo de Ações Afirmativas do clube identificou, em agosto do ano passado, que 40% das torcedoras assinalaram algum tipo de situação de assédio sexual no estádio em jogos do Bahia. No último domingo (5), um episódio alertou que o problema merece maior atenção. 

Integrante da torcida organizada Tricoloucas, composta por 21 mulheres, a produtora cultural Maria Ribeiro, 27 anos, denunciou no Twitter o que vivenciou durante o triunfo por 1x0 contra o Avaí, na Fonte Nova, na terceira rodada do Brasileirão. 

“Um rapaz se aproximou e pediu licença dizendo que iria ficar no meio das ‘meninas lindas’. Uma das nossas integrantes informou que era uma torcida exclusivamente feminina e que ele não poderia ficar no meio. Ele insistiu, começou a se exaltar e começaram os xingamentos e gestos obscenos. As meninas também se exaltaram e ele fez ameaça de agressão física”, contou Maria Ribeiro, que não prestou queixa.

“No intervalo eu subi para ir ao banheiro e encontrei uma patrulha da Polícia Militar e pensei em chamá-los para relatar a situação, mas por ser uma patrulha formada apenas por homens eu acabei recuando, me senti constrangida”, revelou.

Através de nota, a Arena Fonte Nova enfatizou que repudia qualquer atitude de assédio e que, no caso especifico, não foi notificada. Ao ver a postagem nas redes sociais, o Bahia entrou em contato com Maria Ribeiro.  

“O clube lamenta esse tipo de episódio e vem há algum tempo tratando de temáticas como essas de respeito à mulher, incentivando a presença da mulher no estádio. Isso não pode ficar só na lamentação”, afirmou o vice-presidente do Bahia, Vitor Ferraz, que não estabeleceu prazo para a nova função do aplicativo começar a funcionar.

“A nossa ideia é que haja um mecanismo para que a torcedora importunada possa acionar e, por localização, a gente possa identificar onde está e as pessoas do clube responsáveis por isso possam acionar a autoridade policial para agir”, explicou Ferraz.

Ronda Maria da Penha
Comandante da Ronda Maria da Penha, que atua na assistência às mulheres, a Major Denice Santiago alerta para a importância de denunciar os casos às autoridades. 

“Soubemos pelas redes sociais. Ela não procurou a Polícia Militar e isso é um erro, a gente precisa criar o dado. Minha recomendação é que as mulheres confiem nas forças policiais”, recomenda. “Ela não provocar a participação da Polícia faz a Polícia entender que não tem situação nenhuma ocorrendo. Se eu não tenho registro, eu desconheço. A gente precisa saber o que está acontecendo”, completou.

Por coincidência, o jogo Bahia x Avaí foi o primeiro de 2019 na Fonte Nova a contar com a Ronda Maria da Penha. Por uma questão de logística da Polícia Militar da Bahia, a patrulha não esteve presente na estreia da competição, quando o tricolor recebeu 29.215 torcedores diante do Corinthians. O efetivo especializado também não esteve presente nos outros campeonatos disputados nos quatro primeiros meses do ano.   

De acordo com a major, a Ronda Maria da Penha iniciou o trabalho nos estádios em 2017 em decorrência de um dado da Superintendência de Telecomunicações (STELECOM) da Secretaria de Segurança Pública (SSP) da Bahia, que sinalizava que em dias de jogos de futebol as ligações para o 190 com denúncias de violência doméstica aumentavam em 27%. 

Criada em 2015, a Ronda Maria da Penha está presente na Fonte Nova nos jogos do Campeonato Brasileiro desde o ano passado. Em partidas com previsão de público até 15 mil, há apenas uma patrulha, sempre composta por seis policiais, sendo ao menos um deles mulher. Em jogos com mais de 15 mil torcedores, há duas patrulhas. Em 2018, o efetivo esteve presente no Barradão em apenas dois jogos do Vitória. 

“Quando começamos a ir para os estádios, tivemos uma reunião com conselheiros do Bahia e eles trouxeram pra gente o assédio que as torcedoras estavam tendo dentro do estádio, como invasão a banheiros e mulheres sendo apalpadas”, contou. 

A Ronda Maria da Penha tem o nome identificado na farda e o braçal na cor lilás, mas não uma identificação visual fixa. “Acredito que a gente precisa de uma sinalização que, à distância, as pessoas já saibam que a gente está ali. Quando estamos no estádio, muitas mulheres assistem ao jogo próximo à gente”, relatou a Major Denice Santiago.



Informações Correio

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