O SUPER HOMEM

Foto: Divulgação

Tem uma frase da genial música Super Homem do não menos genial Gilberto Gil que diz bem assim “...um dia vivi a ilusão/ De que ser homem bastaria” e vendo os arroubos verborrágicos do Bolsonaro nos eventos de sete setembro último, faz lembrar que sua impetuosidade canastrona de machão dos trópicos seria suficiente para tentar dar uma guinada, ou melhor dizendo, uma ruptura na ordem institucional, achando que sua grei seria suficiente para seus delírios e quem sabe dar um golpe.

Bolsonaro vem desde de sempre ressaltando a sua virilidade como suficiente para atingir seus objetivos. Nos atos de Brasília e São Paulo no último dia 07 seria a catarse de seus planos. Incentivou, arregimentou e conclamou os seus fanáticos a irem às ruas para tentar emparedar os demais poderes da república e pressioná-los a atender suas posições políticas. Para tanto, num arroubo autoritário disse o que sempre disse em toda a sua trajetória política: atacou o STF, o TSE, seus respectivos ministros, inclusive com xingamentos, e disse que não iria mais cumprir decisões judiciais, defendeu aquilo que ele chama de liberdade (todo candidato a ditador sempre fala em liberdade), enfim, promoveu uma saraivada de impropérios que no mínimo o qualifica em prática de crime de responsabilidade.

No entanto, o contingente de fanáticos presentes aos eventos, se mostrou aquém de suas projeções de virar a mesa do cenário institucional. Achava Bolsonaro que ao tentar levar às ruas os seus seguidores, seriam suficientes para alavancar seu único projeto, qual seja, se perpetuar no poder. A multidão vista nas ruas do eixo Brasília-São Paulo representa justamente os seus 20% de eleitores e segundo as pesquisas com fortes sinais de queda nesses números. No restante do país o total de lunáticos não dava para encher um microonibus. No entanto, seus puxa-sacos divulgaram que dezenas de milhões de pessoas aplaudiram o presidente da república.

O fracasso das ruas fez com que Bolsonaro fosse alvo de uma enxurrada de ataques dos políticos, da imprensa, dos tribunais, magistrados, intelectuais, do povo, ou seja, da maioria inteligente do país, em razão das barbaridades ditas nas comemorações da independência. Sentindo que seus planos de golpe fracassaram, afinal, seus fanáticos achavam que o dia 08 de setembro o STF seria fechado, o Congresso Nacional sucumbiu ao autoritarismo, restando então ao super-homem recuar. Após os duros discursos do Ministro Fux e do Ministro Barroso e vendo que incorreu em uma série de crimes, optou por uma carta em sua defesa.

Do ponto de vista gramatical um horror. E não foi o ex-presidente Temer que escreveu. Ele apenas fez alguns parágrafos. Como Bolsonaro ao que parece nunca leu nada na vida, está no texto na medida de sua formação intelectual. Deixando de lado a gramática, o que se viu foi um presidente com medo de perder espaço político e ser defenestrado de vez da presidência. Com certeza chegou aos seus ouvidos que crimes haviam sido praticados em sua discurseira golpista. Poderiam não dar em nada, mas o desgaste político seria irreversível. E tais crimes o acompanharia depois de seu mandato, com fortes chances de ser preso. Lembrando que um presidente da república é quase impossível ser preso, a não ser em crimes contra a vida e em estado de flagrância. Fora isto, o trâmite é legal e complexo e depende do Congresso Nacional e do STF. Os de responsabilidade acabam com seu mandato, os demais não. Continuam após sua saída do Planalto. E é aí que mora o perigo.

Após ofender a pessoa do Ministro Alexandre de Moraes, saiu-se com o elogio de que é grande professor e jurista. Mas isto não fará com que tenha as ações sob a responsabilidade do Ministro amenizadas. Os processos abertos e em curso, serão sem sombra de dúvidas continuados. E não é vingança. Apenas o seguimento do que os diplomas legais determinam, afinal, os inquéritos investigam a participação de Bolsonaro em muitos deles. Seus puxa-sacos afirmam que a carta divulgada na última quarta-feira foi a forma do presidente da república de buscar uma unidade política. Não foi nada disso. Foi medo mesmo de perder o cargo e ser preso. Não se viu em nenhum trecho da missiva um só traço de reconhecimento que errou e pediu desculpas. Apenas afirma que suas palavras foram ditas em razão do calor do momento. Sei. Entendo.

Não demorou muito, no dia seguinte naquela live capenga das quinta-feiras voltou a atacar o TSE, propagandear a volta do voto impresso e se gabar de que saiu vitorioso nos dois eventos. Só os lunáticos acreditam. E para piorar a sua situação, o Bolsonaro no dia 06 editou a MP que altera as regras do Marco Civil da Internet que permite a divulgação de fake News sem consequências penais. Fez isto a soldo de seus maluquetes das redes sociais continuarem com seus discursos de mentiras. O presidente do Senado devolverá a MP nesta terça-feira. Será mais uma derrota de sua tentativa de impor visões de mundo que se adequam muito bem para visões de mundo  autoritária, que no caso, é o Bolsonaro.

Termino com os versos da bela música do Gilberto Gil que retrata, ainda que de modo transverso e o sentido seja outro, o mundo bolsonarista: Que o mundo masculino/Tudo me daria/Do que eu quisesse ter.

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