OS VINTE MINUTOS

Foto: Divulgação

No fim da tarde da última segunda-feira, o presidente Bolsonaro teve uma prosa de vinte minutos com o ministro Fux, presidente do STF. Segundo relato de ambos, este convidou aquele para uma conversa para, segundo, o chefe do cercadinho, alinhar as coisas nas quatro linhas da constituição federal.

 

O resultado da conversa, divulgado na entrevista concedida, foi entre outras coisas a possibilidade de um encontro com todos os chefes dos três poderes para estabelecer os limites de cumprimento do texto constitucional. Não deixa de ser auspicioso, no pior sentido da palavra, que tal encontro realmente aconteça. São coisas que sói acontecem em terra brasilis.

 

Vamos recapitular alguns fatos que merecem destaque, antes de emitir uma opinião contrária a esta reunião com os chefes dos três poderes. Nas últimas semanas vimos um presidente da república pondo em dúvida as urnas eletrônicas sob a alegação de fraude, inclusive o pleito ao qual foi eleito, chamou um ministro do STF de idiota porque este defendia de forma correta e dentro de suas atribuições a lisura das eleições e a atuação do TSE e a não aprovação do voto impresso. Disse ainda o falastrão do cercadinho que se o Congresso Nacional não permitisse auditável, que na verdade significa voto de papel, não haveria eleições em 2022. Ou seja, ameaçou um golpe nas instituições. Não satisfeito, divulgou nas redes sociais que havia um vídeo produzido de um certo Daniel com a presença de autoridades envolvendo menores e traficantes e que o autor dos vídeos estava chantageando estas autoridades por isto que estava havendo quebra de sigilo, buscas e apreensões e prisões arbitrárias. O texto divulgado obviamente que tinha endereço certo. Claro que esta porcaria escancara a covardia, pois é escrito na base de “vamos supor” como começa o seu texto nas redes sociais.

 

Como se não bastasse, o presidente da república ainda destratou os representantes de outro poder, no caso os senadores da república com uma enormidade de palavrões dos mais diversos matizes e desqualificou a trabalho da CPI da pandemia.  E para terminar nada disse ou se manifestou sobre aquela nota golpista e autoritária do ministro da defesa assinada também pelos três chefes das forças armadas com ameaças explícitas indo de encontro ao que prevê o texto constitucional.

 

Como se vê, é uma penca de situação protagonizada pelo presidente da república, que em outras democracias daria no mínimo um pedido de explicação pelos xingamentos e imagine pelas acusações contra as instituições da república, sem prova que faz diariamente naquele cercadinho da infâmia. Aliás coisa que a PGR já deveria ter tomado providência, mas mantêm um silêncio subserviente.

 

Voltando a conversa de vinte minutos entre o presidente Bolsonaro e o ministro Fux, não se sabe o inteiro teor do que foi conversado. O que surpreendeu foi que em nenhum momento o presidente do STF lançou uma nota dura aos ataques à honra dos ministros da mais alta corte e contra a própria instituição vindas de Bolsonaro. Aquela que ele lançou como resposta à verborragia golpista do presidente da república foi anódina e fraquinha. Um dos poderes foi atacado e a honra de seus ministros. Se esperava uma reação a altura que se exige de um dos chefes dos poderes da república.

 

O fato de chamar o presidente da república para uma conversa é a pior das escolhas. Não se pode contemporizar com aqueles que atacam as instituições e ainda ofende a honra e a moral de seus membros. Somente chefetes despreparados para o cargo se acovardam quando o órgão que representa faz reunião com seu ofensor. E ainda diz que este deve se ater ao que manda a constituição. Realmente fica difícil aceitar que o presidente do STF tenha que realizar uma reunião para dizer estas coisas.

 

O correto era exigir uma retratação dos ataques do presidente da república e sem a necessidade de reunião. Não se trata de buscar conflito entre poderes. Mas quem ataca da forma como faz o presidente da república as instituições, não será uma conversa que irá detê-lo. E as ofensas graves como as perpetradas por Bolsonaro devem no mínimo serem cobradas explicações e elas serem dadas publicamente. Imaginem senhores e senhoras, se o presidente americano dissesse metade das coisas ditas pelo conversador do cercadinho contra o congresso americano ou a suprema corte, no mínimo já teria sido defenestrado do cargo.

 

Por outro lado, é extremamente vergonhoso que chefes dos poderes da república se reúnam para discutir quais os limites de atuação dos mesmos diante do texto constitucional. Se for para isto, não precisa. Basta que leiam a constituição federal, e peça a aquele que mais descumpre seus artigos, no caso o presidente da república, que pelo menos alguém leia para ele e pare de atentar contra a institucionalidade e conter o espírito golpista que aflora nas suas palavras. Para finalizar: reunião como estas é coisa de republiqueta de bananas.

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