CANUDOS EM CORDEL - XIV

Foto: Divulgação

Secretário do Conselheiro
Era Antônio Vila Nova
Sendo patrícios do estado
Eram amigos, deram prova
Os dois fugiram juntos
De Assaré e Várzea Nova
Há muito são dois defuntos.


Era Antônio Vila Nova
O seu melhor tesoureiro
Quando o dinheiro do povo
Era entregue ao Conselheiro
Da República pra queimar
E do Império para guardar
Em malas só de dinheiro.

Confiava o Conselheiro
Na coragem do Pajeú
Valente, calmo e corpudo
Sorrindo comia cru,
João Abade era valentão
O Vicente do Pedrão
Parecia índio semi nu.

O Presidente convocou
Soldados desde o Pará
E do Rio Grande do Sul
De São Paulo e Paraíba
De Sergipe e Mato Grosso
Precisava de reforço
De Minas e do Ceará.

Deu comando a Artur Oscar
Chefe do Estado Maior
Com centenas de oficiais
De coronel e major
Mobilizou todo o país
Pra assumiu a diretriz
Formar um exército maior.

Mais de dez mil homens
Reuniram nos pelados
O Servaget comandava
A força de dois estados
De Aracaju e Maceió
No fogo do Cocorobó
Perdeu trezentos soldados.

O comandante ordenou
Ao Coronel Servaget
Reunir os batalhões
Entregou-lhe mais fuzis
E seguir para Canché
Subir o Vasabarris
Para destruir a má-fé.

Pôs o 28 de Alagoas
E o 26 sergipano
Unidos para atacarem
Pelo flanco descampado
Seguiram por Simão Dias
Unindo as cavalarias
Pra não ficarem isolados.

Um outro grupo do sul
Do Rio Grande e Santa Catarina
Reunidos planejaram
Fazer uma grande chacina
E como eram cavaleiros
De um batalhão de lanceiros
Desprezaram as carabinas.

E depois de unificados
Com os batalhões do norte
Homens criados com fome
Ágeis, valentes e fortes
Que conheciam os caminhos
Livravam-se dos espinhos
E se defendiam da morte.

Subiram o Vasabarris
Essas novas expedições
Dois mil e seiscentos homens
Iam empurrando canhões
E o grupo de lanceiros
Queriam varrer os sertões
Com soldados loroteiros.

Iam já se aproximando
De Canudos, o batalhão
Do general Artur Oscar
Seis mil homens de plantão
O sol estava se pondo
Quando ouviram o estrondo
Da artilharia em ação.

E Pedrão bem espreitava
Na garganta Cocorobó
Preparando os clavinotes
Com cinquenta homens só
Foi disparar bacamartes
Com boa visão de combate
Morreu gente que fez dó.

Os soldados sulinos
do tal batalhão lanceiro
Avançavam com as lanças
O combate foi ligeiro
Jagunços entrincheirados
Cada tiro era um soldado
Para bacamartes certeiros.

Perdeu duzentos e sessenta
A força de Servaget
Foi forçado a recuar
Para as várzeas do Canché
Fugindo do boqueirão
Que ninguém tomava pé.

Encontraram um vaqueiro
Que logo se prontificou
Levar ao general Artur
Uma carta que avisou
Abriram uma variante
Ligaram-se os comandantes
Por onde a força passou.

Juntaram-se dez mil homens
Bem no morro da Favela
E em cada estrada botaram
Soldados de sentinela
Com a artilharia em ação
Sofria-se naquele sertão
Bexiga e febre amarela.

E a jagunçada reunida
Rezando naquele arraial
Com aspecto de cidade
Em torno do chefe leal
Mesmo caindo casas e igreja
Até chegar o Marechal.

Marechal Carlos Machado
Chegou até Monte Santo
Deu ordem para que cercasse
A cidade e o recanto
Pois os jagunços com fome
Haveriam de perder nome
E se entregavam sem pranto.

Os soldados do Ceará
Do Piauí e Maranhão
Paraíba e Pernambuco
Conheciam o sertão
Porém os do Paraná
Do Amazonas e Pará
Tinham espinhos na mão.

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