FEIRA QUE VIVI - XII

Foto: Divulgação

Com a posse do triunvirato militar e a maciça propaganda anti-comunista, as antigas divergências partidárias passaram a ser ideológicas entre os brasileiros ditos revolucionários (que apoiavam a queda de Jango) e os que se diziam legalistas (que eram contra a solução militar).

Em poucos dias, Chico Pinto foi deposto e preso por oficiais do Exército de Salvador, sendo substituído por Joselito Amorim. João Durval, o candidato a prefeito vencido na eleição de 62, se recusara a assumir o posto, pelo fato de não ser a vaga resultado de processo eleitoral.
Em Brasília, os Atos Institucionais e os decretos iam sendo baixados sucessivamente, atingindo os membros dos três poderes, com cassação de mandatos demissões de magistrados, de militares e de qualquer servidor, suspensão de direitos políticos, intervenção em sindicatos, nas entidades estudantis, extinção dos partidos políticos, prisões, desaparecimentos e mortes e áreas de segurança nacional nas quais os administradores eram nomeados (refinarias, estâncias hidrominerais, regiões onde eram construídas grandes obras).

A oposição mais aguerrida respondeu com ações de contestação e de confrontos.

O empresariado paulista ajudava com recursos à repressão.

Líderes da Igreja Católica faziam homilias a favor da concórdia. Dom Evaristo Arns (arcebispo de São Paulo), Dom Hélder Câmara (no Recife) e Dom Pedro Casaldáliga, em Goiás, davam apoio pacífico aos opositores, mas irritava o regime.

Basta lembrar que, tendo várias organizações internacionais lançado o nome de Dom Hélder Câmara para receber o Prêmio Nobel da Paz, no início dos anos 70, dois vereadores de Feira, por terem apresentado uma moção de apoio ao bispo, tiveram de se explicar em sindicância militar instaurada.

Diziam que Feira de Santana era o maior foco de opositores e que, por isso, exigia uma vigilância especial. Daqui, saíram Nilda, a linda adolescente, que morreu em unidade militar, e Zéquinha, com Lamarca, em Brotas de Macaúbas.

Decorridos dois anos de inatividade política institucional, o governo admitiu a criação de dois partidos, um da situação (a Arena), outro da oposição (o MDB).

Para abrigar as correntes dos antigos políticos da UDN e PSD, que se digladiavam no partido do governo, o regime criou o sistema de sublegendas, pelas quais cada uma funcionava como partido, mas os votos apurados na eleição eram somados e confrontados com os que eram dados ao MDB, tornando quase impossível a vitória da oposição.

A opção dos brasileiros, assim, era aderir ao governo ou ser oposição, e sendo esta decidir se escolhia a luta armada ou a via política e eleitoral.


Por: Pedro Cleto 

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