FEIRA QUE VIVI - VI

Foto: Divulgação

Como disse, não pretendi (nem pretendo) ser copista ou historiador, principalmente este que tem o dever de narrar os fatos e examiná-los à luz do contexto social e político. Apenas citar eventos singulares, pitorescos, que não constam dos anais. Exceções apenas para emoções... como a que segue.

​Até a Revolução de 30, o ensino era de responsabilidade dos estados. Vargas em 1932 transferiu a responsabilidade para o governo federal, e além do curso primário, organizou o ensino secundário e o superior.

​Áureo, recém habilitado na profissão de dentista, com sua visão extraordinária de homem público se engajou na Reforma de Francisco Campos (o Chico ciência, autor da Polaca – a Carta de 37) e decidiu instalar educandário em Feira  para atender à mocidade local de ambos os sexos, e os moços do sertão que não tinham condições de se deslocar para a capital e ingressarem nos cursos secundários.

​O Colégio Santanópolis passou a acolher em seus cursos metade dos jovens interessados do interior. Basta dizer que até quinze anos depois de fundado, em 1947, somente havia, fora de Feira e no interior, ginásio para alunos em Petrolina (PE) e escola normal para moças em Senhor do Bomfim.

​O notável educador atendia as aspirações de jovens, e os sonhos de pais visionários. Seguia o grande vate baiano: 'Oh’ Bendito o que semeia Livros à mão cheia E manda o povo pensar! O livro caindo n'alma É germe – que faz a palma, É chuva que faz o mar!

​O colégio foi responsável durante mais de cinco décadas pela formação de milhares de profissionais, médicos, advogados, engenheiros, dentistas, professores, jornalistas, técnicos, políticos e especialistas em todas as áreas. Quantos parlamentares (senador, deputados federais e estaduais, vereadores), governador, prefeitos, procuradores, juízes federais (Antônio Navarro foi um deles), e outros profissionais não foram seus alunos! João Durval, um dos mais ilustres e inigualável benfeitor de Feira, aluno do Santanópolis, foi, sucessivamente, vereador, prefeito, governador e senador.

​Os arquivos do Colégio constituem, por isso, valiosíssimo acervo que a Feira tem o dever de preservar e torná-lo acessível aos pesquisadores.

​ Edelvira e Hermengarda, familiares que concretizaram o grande sonho de Áureo ombreados com Honorato Bomfim, Gastão Guimarães, César Orrico, Joselito Amorim, Gilberto Menezes e outros mestres dedicados foram coadjuvantes de uma empreitada extraordinária que constitui legado imorredouro, e que ajudou a colocar a Feira no mais alto patamar da política e da cultura, e deu ao Brasil profissionais competentes e sérios.

​Dentre os filhos de Áureo, Alberto Oliveira, o acertador do milhar da Federal, apaixonado pelo Fluminense de Feira, seu dirigente por longo tempo, e que impôs as cores de seu time ao pavilhão da cidade, invertendo a lógica sempre observada da bandeira da cidade impor-se nas camisas do seu clube de futebol. Foi vereador por exclusivo amor à terra, no tempo dos patriotas em que a vereança não era remunerada, com Coelinho, Zé Raimundo, Dega, Noide, Renatinho, Gerson, Zezito Freitas, Dival, José Pinto e outros. Competente, sério, respeitado e querido pelos colegas, até pelos mais ferrenhos oposicionistas ao prefeito Newton Falcão da época (71/72), foi líder de sua bancada – a Arena, dando ao prefeito importantes vitórias. Em homenagem justíssima, deram seu nome ao popular Joia da Princesa (nosso estádio); Juca – o tabelião, esforçado para bem cumprir o seu mister, sempre solícito e Evandro, o Espirro, figura singular, brincalhão, fazedor de amigos, além do queridíssimo Memé que se integrou à família... os agradecimentos meus e de minha irmã, dentista, também santanopolitense...


Por: Pedro Cleto 

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