O TERRA PLANISMO DIPLOMÁTICO

Foto: Divulgação

A diplomacia brasileira desde o Império teve o respeito internacional não só pela formação que são submetidos seus representantes, mas também pela qualidade dos diplomatas. Não precisa ir muito longe identificar um rol que honraria muito país pelas suas qualidades: Joaquim Nabuco, Barão do Rio Branco, Osvaldo Aranha e por aí vai.

 

Nos últimos quinze anos tivemos um recrudescimento vertiginoso na qualidade dos chanceleres que ocuparam o cargo de Ministro das Relações Exteriores. Desde a gestão do presidente Lula, as guinadas ideológicas do Itamaraty puseram em xeque a política externa do Brasil. O nosso país passou a se alinhar com ditaduras africanas e árabes e cabular votos para ocupar com a impossível possibilidade de ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Deu as costas aos EUA e alguns países da Europa e passou a privilegiar o que os petistas chamavam de política Sul-Sul, ou seja, estreitar laços com os países do hemisfério Sul. Com esta ideia os governos petistas passaram a fazer visitas as anacrônicas ditaduras africanas, e muitas delas sanguinárias.

 

Com a ascensão do Bolsonarismo, foi alçado ao cargo de chanceler a obscura figura do Ernesto Araújo. Foi este distinto que escreveu um artigo chamando o presidente americano de Deus, em razão de um discurso que este proferiu na Polônia, que segundo o chanceler brasileiro, o Trump veio para salvar a América, e combater umas estrovengas sabe se lá de onde tirou chamado de “globalismo” e “marxismo cultural”. O texto tem o simbólico título “Trump e o Ocidente”. Bem, com estas credenciais de intelectual de um livro só, chegou ao posto máximo da chancelaria brasileira.

 

Exposto o currículo nada brilhante do atual ministro das relações exteriores, na última semana ele resolveu estender palanque para o proselitismo basbaque do seu colega americano Mike Pompeo no estado de Roraima. Em visita oficial, o secretário de estado americano resolveu desancar e hostilizar a Venezuela em território brasileiro. Que a Venezuela é comandada por um tirano sanguinário e idiota, isto não é novidade para ninguém. Mas o que não pode é permitir que um representante da diplomacia seja de que país for, em solo brasileiro depor contra qualquer nação do mundo.

 

A primeira autoridade brasileira a se opor a visita do secretário de estado dos EUA foi o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Ele condenou com acerto a sua irresignação pois segundo ele as declarações e os motivos da visita do americano depõe contra a altivez e a tradição de autonomia que o Brasil sempre teve. E acrescento que o fato das eleições americanas estarem a pouco mais de trinta dias, serviu de palanque ao Trump que não vê a hora de provocar uma guerra contra os venezuelanos. E um evento deste seria uma alavancada para a sua reeleição.

 

A indignação conseguiu reunir os últimos chanceleres brasileiros que em nota conjunta se mostraram contrários a visita e seus objetivos do secretário americano. Eles reafirmaram que os propósitos da visita não se constituem de uma prática diplomática bem-vinda. Em defesa do que disse o presidente da câmara dos deputados, Rodrigo Maia, os ex chanceleres reafirmaram o respeito ao que diz a constituição federal em seu artigo 4º no qual o Brasil deve guiar suas relações internacionais pela independência nacional, a Autodeterminação dos povos, não-intervenção e a defesa da paz. Exigir do atual chanceler brasileiro se nortear por estes primados é como pregar paras as paredes.

 

A visita e as palavras ditas pelo Mark Pompeo contra a Venezuela na fronteira dos dois países não seriam novidades em face da política adotada pelo governo Bolsonaro. A sabujice e a lambição das botas junto ao governo americano é inédito na diplomacia brasileira. O alinhamento aos EUA é a demonstração cabal de como vai mal a política externa brasileira. Alguns sábios do almanaque Fontoura diriam que é uma unidade de pensamento conservador que aproxima o presidente brasileiro e americano. De conservador sem sombra de dúvidas não tem nada, são ambos a fina flor do extremismo da direita. Mas o que os une é a estultice de ambos e a visão extremista no agir e no governar. A diferença que os irmãos do Norte são ricos e podem comprar brigas ao redor do mundo que as consequências são ínfimas. Já em Pindorama o preço a pagar é o isolamento internacional, com repercussão em todos setores da vida nacional.

 

Amanhã o Brasil abre a Assembleia Geral da ONU e o discurso inaugural é preenchido pelo Brasil. Já antevejo o que será dito pelo presidente da república. Vai dizer que o país se saiu muito bem no combate a pandemia, com cloroquinada a torto e a direito, temos a maior e melhor política ambiental do mundo e as inventivas internacionais contra nosso ecossistema é para proteger seus mercados e que ninguém pode dar pitacos nos problemas internos do Brasil e a reboque ainda vai exortar a soberania nacional, como se houvesse uma ameaça real.

 

São estas posturas que tornam o Brasil na visão internacional um celeiro de esquisitices e descrédito. As bandeiras defendidas pelo governo atual nos organismos internacionais já nos tiraram o respeito. O chanceler por sua vez não podemos taxar do pior que já tivemos. Seria necessário estabelecer um novo parâmetro de ruindade, o que é muito difícil. Por que nem ruim ele é. Vai além disto.

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