Desespero pré-eleitoral

Foto: Divulgação

Em tempos de pandemia, a campanha eleitoral de 2020, será totalmente diferente. Sem poder ter contato físico com o eleitor e sem poder aglomerar pessoas, os candidatos estão tendo que se reinventar para 'aparecerem' para o público. As redes sociais, que vão ter papel fundamental nas campanhas, já começam a aquecer, e já tem muita gente se declarando eleito por aí (é impressionante como todo mundo pensa que já está eleito).

Mas de toda essa reinvenção, uma coisa chama a atenção: o desespero de alguns pré-candidatos em 'aparecer' no rádio. Isso, na verdade, sempre aconteceu em período pré-eleitoral, mas esse ano, por conta de todos os motivos citados acima, foi muito mais intenso.

O movimento começou há uns 4 ou 5 meses, logo que a pandemia começou. De uma hora para outra, começamos a receber ligações em nossos programas de rádio de pré-candidatos a vereador, ou vereadores pré-candidatos à reeleição (principalmente eles), pedindo espaço para dar opinião sobre qualquer assunto aleatório, e que, na maioria das vezes, não lhes cabe. Espaços que, com o devido olhar e critério jornalístico, quando entendemos que não seria uma opinião que coubesse ao pré-candidato comentar (teve coisa até sobre o que aconteceu em outro estado, ou outro país, que sequer desperta um interesse tão grande de quem vive aqui em Feira de Santana), foi negado, por entendermos que, naquele momento, a intenção por trás era de 'pegar carona' em qualquer assunto aleatório para aparecer na mídia, e com isso, se promover politicamente.

Recentemente, com a proximidade do fim do prazo para entrevistas de pré-candidatos a emissoras de rádio (o último dia é hoje, dia 14), esse movimento se intensificou, e assim como antes, filtramos e negamos a praticamente todos, com exceção apenas para assuntos de interesse público e sem a intenção de autopromoção. Na verdade, acredito que não fizemos entrevista com nenhum, mas para evitar me furtar ao esquecer de algum, melhor deixar como 'quase todos'. Seguimos durante esse período com nossa vida de reportagens e análises sobre o cenário para as eleições.

Ocorre que ontem, dia 13 de agosto, durante o programa Bom Dia Feira, o nosso colunista de política, Humberto Cedraz, comentava juntamente com o nosso âncora, Dilson Barbosa, sobre o cenário político da cidade, e os dois, juntos, contabilizaram 8 pré-candidatos a prefeitos em Feira de Santana até o momento. Já nos últimos minutos do programa, um cidadão que prefiro não citar o nome (para não dar os minutos de fama que ele quer, para se promover), ligou para o estúdio extremamente irritado e tratou mal, com arrogância, duas integrantes do nosso programa, que falaram com ele ao telefone. O motivo de tamanha revolta era o fato do nome dele não ter sido citado entre os pré-candidatos. Entre outras coisas, o nobre pré-candidato disse que o nome dele teria sido omitido no comentário e que seria impossível os comunicadores Dilson Barbosa e Humberto Cedraz não saberem que ele é de fato, pré-candidato a prefeito de Feira de Santana, já que, segundo ele, a cidade toda sabe, devido à sua fama e importância. Eu, que estava na apresentação do programa, soube do ocorrido 'por alto', e encerrei a edição do Bom Dia Feira explicando que não sabíamos de tal pré-candidatura (por mais surpreendente que possa parecer para a celebridade que nos ligou), e que não deixamos de citar seu nome por mal. Disse quanto tal situação era chata para nós, que já estávamos calejados de gente querendo 'mídia', esclareci que, nesse período de pré-candidaturas, não somos obrigados a citar o nome de todos os pré-candidatos, e reclamei da forma grosseira com a qual minhas colegas de trabalho foram tratadas.

Ontem à noite, recebi dois áudios via whatsapp, que foram gravados pelo tal pré-candidato (Não foi ele quem me enviou. O áudio circulou por grupos do aplicativo de mensagens, e alguns colegas me enviaram), no qual ele fazia a mesma reclamação, externava sua indignação, em alto tom, transparecendo estar transtornado com isso, e dando a entender que ele, por ter sido um 'grande investidor do rádio' (pelas palavras dele), pelo fato de, como empresário, já ter anunciado em vários programas de rádio de Feira de Santana, teria que ter como contrapartida uma 'parceria' em citar o seu nome entre os pré-candidatos. Decidimos exibir os áudios durante o programa de hoje, para não dizer que estávamos de má-vontade, comentamos o fato, e a celebridade ganhou os seus 5 minutos de fama, como queria, atingindo seu objetivo.

Quero dizer ao nobre pré-candidato que nada tenho contra ele, até porque, apesar de conhecer a sua figura e a sua fama (estamos falando de uma celebridade, afinal), não o conheço pessoalmente e não tenho qualquer motivo para lhe preterir, de qualquer forma que seja. Informo ainda a ele, que em nossos programas não trocamos anúncios publicitários por promoção política, como 'parceria'. Nunca o fizemos e nunca faremos. E a propósito, nunca tivemos em nenhum de nossos programas, qualquer anúncio publicitário de sua empresa. Nem eu, e nem Dilson Barbosa. Reitero apenas, a necessidade dele, assim como de qualquer pessoa, de ter o mínimo de educação e civilidade ao tratar com qualquer membro da nossa equipe. Não somos obrigados a ouvir desaforo de ninguém, ainda mais por um erro que não cometemos. Tratar bem as pessoas é um dever de todos. Ainda mais para alguém que tem a intenção de governar a cidade. Mas não levarei a mal também e sigo não tendo nada contra o nobre pré-candidato. Vou entender tal fato como uma necessidade de aparecer em um momento de desespero pré-eleitoral.

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